"O Diabo Aquático"

O título trata de um engano comum, para não dizer corriqueiro, da expressão idiomática "o diabo a quatro", peculiar ao português brasileiro.
Ela é conveniente ao propósito deste blog, que visa encarar o quotidiano com espírito de reforma e revolução, mas sem perder a tônica de humor irônico, quando não ácido ou sardônico.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Pega, mata e come.

Certamente, vale mais que qualquer texto que se possa escrever.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A fúria de verão do Diabo Aquático

Em janeiro e fevereiro de 2011 observamos um desastre na região serrana do Estado do Rio de Janeiro: as chuvas inundaram as regiões urbanas e a força das águas destruiu a cidade, ou parte dela, gerando danos sem precendentes às populações locais: casas, monumentos históricos, equipamentos urbanos (hospitais, unidades policiais, sistemas de condução de água e esgoto, energia, e transporte coletivo, etc.), prédios administrativos e escolas.
A observação dos seres [proto]pensantes tomou formas diversas: solidarização; reação em formas de resgate ou abastecimento de víveres para as vítimas; escândalo; indiferença. Cada cabeça, uma... coisa, exceto uma sentença.
Por que não houve sentença? Porque o sentimento apaziguador de "não adianta achar um culpado", impede.
E neste sentimento, não houve um ciclope sequer que arrancasse sua bitola e disesse: a culpa é minha. Eu fui burro o suficiente para deixar o que aconteceu no mesmo início de ano em 2009, no Estado de Santa Catarina, e em 2010, no interior Paulista, acontecesse em 2011, nas terras altas Fluminenses.
Vidas em vão.
Não fomos, todos nós, capazes de achar um culpado e, com os poderes que temos (poucos ou muitos), condená-los: nas urnas, nas Ações Populares, nas Ações Civis Públicas, nas fiscalizações de orçamento, nos protestos públicos nas ruas, na imprensa, na ação popular e direta em prol de seus direitos (que, minimante, são a igualdade, a propriedade, a segurança e a liberdade, cf. Locke)... - Sabíamos que algo seria destruído pela chuva em 2011. Simplesmente, sentamos e esperamos, ou rezamos ao Todo Poderoso que sua fúria chuvosa destruísse a casa do nosso vizinho em lugar da nossa.
Surpresa! Ninguém construiu a Arca de Noé! E nós, na passividade que nos é inerente enquanto pós-modernos (cf. Harvey), levantamos a pedra de Caim e sentamos na cabeça de nossos irmãos Barrigas-Verdes, Fluminenses e Paulistas.
Nossa chance se afogou em um cotidiano de consumo passivo (nos termos de Henri Lefebvre) de esperança de poder pela aliança política pelo silêncio, pelo peleguismo, pela abdicação da contestação e da crítica (cf. José Murilo de Carvalho).
Sinceramente, não gostaria de repetir este tema no ano que vem. Mas, a cada vez que chove na megalópole paulistana, as probabilidades deste querer se reduzem: beira à esquizofrenia pensar que uma cidade de mais de 400 anos, erguida em meio à mata-atlântica (um ecossistema que "pouco chove" [sarcarmo, Sheldons!]), torna-se um caos capaz de alterar a vida de seus habitantes, o ciclo econômico da cidade, a circulação, habitação e lazer de pessoas por causa de uma chuva.
E não falo das tempestades da Flórida, ou os furacões de Tóquio (que vêm acompanhados de um terremoto, ou uma onda gigante, ou até o Godzilla), falo de uma chuva que, nos dizeres da minha avó (PhD em bordado, mas com 70 anos de observação deste cotidiano), "cai todo verão".
Sabemos a qualidade do problema [não é o Godzilla, crianças]. Sabemos sua data e hora para chegar. O que esperamos? Não existem planos de emergência, planos de evacuação, sistema de avisos, equipamentos ou planos de contingenciamento (mesmo que parcial) destas águas. Não temos nada.
É capaz, até, de quando tudo estiver embaixo d'água, quem tem dinheiro compre um barquinho. E determinadas revistas focadas em assuntos relevantíssimos (como a "vida" das celebridades) noticiem "Fulaninho na Veneza Brasileira! Um luxo a bordo de seu iate."
Como disse uma vez uma autoridade política deste país: "vou fazer o "diabo aquático"...". - Pois realmente fizemos juntos! Fizemos, povo e Estado, um pacto com este "diabo aquático" para que, em troca de assistirmos TV em paz, ele provoque seu inferno molhado todo ano para uma parte da população.
Não se esqueça que o "diabo aquático" também é uma tropa de elite: "pega um, pega geral. Também vai pegar você!"
O que fazer?
Noé, neto de Enoque, para Prefeito?! - acho um pouco demais, apesar de guardar gostos de exagero etílico, tal e qual antigos prefeitos da maior cidade do Brasil (já é um currículo melhor que de muitos "exóticos" da Câmara).
Não pensar só no próprio umbigo?! - é um começo.
Pensar o espaço público (inclusive o meio-ambiente), as estruturas coletivas e o Estado como patrimônio de todos (inclusive seu), e não como "coisa de ninguém" (pronta para ser pilhada pelo primeiro bárbaro que chegar)? - é uma boa solução. O resto será mera consequência deste pensamento.

De vosso servo,

Sr. Fawkes